CORDEL

 


       SER PSICÓLOGO
  Um instante de Reflexão

        Lucarocas a Arte de Ser
 
Acordei me perguntando
Sobre a minha profissão
E fiquei analisando
Qual mesmo a minha função
E aqui neste monólogo
Eu vim me ver psicólogo
Em grande reflexão.
 
Formei meu ponto de vista
Num instante bem focado
Refleti sobre entrevista
Sobre teste analisado
E fiz um levantamento
Do tanto de tratamento
Que foi por mim indicado.
 
Num instante de lembrança
Fui buscar na minha mente
Às vezes que a esperança
Para a vida fiz semente
E vendo-a então florescer
Vi a vida renascer
De novo num paciente.
 
Me veio com emoções
Um carinho no lembrar
Quando em instituições
Difícil de trabalhar
Um paciente atendia
E depois daquele dia
Vi vidas se transformar.
 
Lembrei de muitos casais
Que sempre a mim procurava
Por não suportarem mais
A vida que praticava
Mas com algumas sessões
Brotavam as emoções
E o amor se renovava.
 
Um sorriso de alegria
Brotou na minha lembrança
Quando havia terapia
Com paciente criança
Que eu virava menino
E juntos num só destino
Ia semear esperança.
 
Por muito mais de uma vez
Eu fiquei a acompanhar
A mulher em gravidez
Tentando se sublimar
Com o milagre do amor
E assim negar a dor
Que um filho pode causar.
 
Numa sala sem mobília
Em órgãos estaduais
Escutei muita família
Com seus dramas pessoais
E então com uma conversa
Eu via a família imersa
Em novos climas astrais.
 
Numa lembrança mais triste
Me vejo em novo local
E minha memória insiste
Em mostrar um ritual
De tratar o paciente
Ou confortar um parente
Nos plantões de hospital.
 
E agora um sofrimento
Vem habitar meu lembrar
Pois fiquei por um momento
Um instante a recordar
Todo o destino e sorte
De quem enfrentou a morte
E eu tive que confortar.
 
Quantas vezes pesquisei
Um assunto diferente
E muito tempo estudei
Buscando a linha de frente
Dentro do conhecimento
Para poder dar alento
A todo meu paciente.
 
Eu fico às vezes pensando
Se essa minha profissão
Dá os frutos que estou plantando
No meu cumprir de missão
Ou é apenas atalho
Que nós chamamos trabalho
Para viver na ilusão.
   
Mas nessa reflexão
Não quero melancolia
Quero ver a emoção
Nas rimas da poesia
E assim eu recordar
Um lado bom de lembrar
Dessa psicologia.
 
Quero lembrar com carinho
O exercício de ouvir
E ver alguém um caminho
Com segurança seguir
Sem nunca mais tropeçar
Mas apenas caminhar
Pra seu mundo construir.
 
Quero ver alma cansada
Se tornar uma alma leve
Quero vida transformada
Com jeito de quem se atreve
A deixar de ser sisudo
E trocar o seu escudo
Por um sorriso de neve.
 
Eu quero ver risos largos
Alegrando corações
Quero carinho e afagos
Aumentando as emoções
Quero corações serenos
Nos exercícios mais plenos
De se conceder perdões.
 
Quero a lágrima a correr
E transformar em sorriso
Pra amenizar o sofrer
Num instante mais preciso
Quero fazer acolhida
Para que o dom da vida
Se cumpra num paraíso.
 
Quero salvar uma vida
De quem perdeu a esperança
Eu não quero um suicida
Morando em minha lembrança
Quero ver o semelhante
Ter a pureza e o semblante
Da paz de uma criança.
 
Quero um mundo de amor
De fé saúde e harmonia
Que seja apagada a dor
Que traz a melancolia
E que toda a depressão
Se transforme em canção
Nas asas da poesia.
 
Eu acho que já fui sonho
Pra fazer alguém sonhar
E muito do que proponho
É só para amenizar
Alguma dor já doida
Pra amenizar a ferida
Que não quer cicatrizar.
 
Um milagre eu nunca fiz
Eu só apontei caminhos
Pra fazer alguém feliz
Tirei da flor os espinhos
E para alguém confortar
Eu fiz do meu escutar
Um aconchego de ninhos.
 
Sou igual a qualquer ser
Tenho também minhas dores
Tenho também meu sofrer
E também meus dissabores
Mas nos pensamentos meus
Encontro a força de Deus
Com toda benção de amores.
 
Hoje sendo psicólogo
Eu cumpro a minha missão
E aqui neste monólogo
Eu deixo uma reflexão
Que pra ter bom resultado
Deve o amor ser plantado
Nessa nossa profissão.
  
Fortaleza, 09 de Dezembro de 2014.
10:48 h

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QUANDO MORRE A EXPERIÊNCIA
TODA POBREZA SE INSTALA*
          Lucarocas a Arte de Ser
 
A vida escreve uma história
De presente e de passado
E quem não faz resgatado
Um registro de memória
Se perde na trajetória
Sem um registro ou escala
Até os timbres da fala
Não atingem uma abrangência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
 
Um fato que é contado
Como forma de ensinar
Se alguém não registrar
Para fazer divulgado
Se esquece no passado
E na história se cala
E nada então se abala
Por perder-se na existência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
 
A parábola do vinhedo
Desperta uma discussão
Que nos mostra uma lição
Que pode até causar medo
Pois já revela um segredo
Que pouca história se iguala
Pois no trabalho quem rala
É feliz na existência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
 
Uma experiência passada
De modo ameaçador
Vai ditar certo valor
Só por pequena jornada
Mas pra quem segue na estrada
O tempo já desiguala
E em outra história resvala
Por não ter absorvência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
 
De certo não mais existe
Quem conte uma boa história
Que indique a trajetória
De quem na luta persiste
E experiência que insiste
Se firmar em nova ala
Já mofa dentro da mala
Por não ter mais influência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
 
Histórias não são contadas
Mais de avós para netos
E até mesmo os afetos
Seguem já outras jornadas
Não existem mais palmadas
Com palmatória ou com tala
Pois hoje não mais se fala
Em se ter obediência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
  
Não se ver a juventude
Com experiência vivida
Pois hoje uma nova vida
Já se ver nova atitude
Duvido que isso mude
E se ajuste em nova escala
Pra algo que se propala
Com uma grande abrangência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
 
Com a tecnologia
Foi a miséria instalada
E o homem valendo nada
Não muito ele construía
E tudo que ele sabia
É enterrado numa vala
Um tempo ruim assinala
Para uma nova existência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
  
Não se tem mais os valores
Da nossa história e cultura
E a arte e a literatura
Já causam grandes temores
E os mestres e professores
Não mais usam a mesma escala
Com isso o saber se cala
Minguando na paciência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
 
Pra se ter novo povir
É preciso então morrer
Pra depois num renascer
Algo novo construir
Criando para o existir
Transformação que exala
E em novo tempo propala
Sem nenhuma dependência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
 
Já há alguma mudança
No estado de pobreza
Porém com pouca certeza
Se investe na esperança
De que um dia a bonança
Não se transforme em cabala
E morra dentro da sala
Sem haver benevolência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
 
A arte e a filosofia
Não se firmam nos saberes
Pois hoje há outros prazeres
Que se perdem na utopia
Mas há de existir um dia
Em que a arte seja escala
E a filosofia a fala
De um viver com consciência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
  
Não se ver no aprendente
Raízes do seu passado
Pois foi deixado de lado
O broto que deu semente
Hoje o tempo é só repente
Ligeiro como uma bala
E corre por uma vala
E se declara em falência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
 
Os homens negando Deus
Se perdem sem direção
E usam a religião
Pra todos desejos seus
Na fé se tornam ateus
Com dinheiro enchem mala
Tiram vida usando bala
Sem medo da penitência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
 
Todo patrimônio humano
Hoje está abandonado
Pois já ficou confinado
No tempo do desengano
E agora um novo plano
No moderno se encurrala
E no passado se inala
Um criar em decadência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
 
Se espera a ressurreição
Brotando em novas sementes
E que muitas outras mentes
Progridam na evolução
E que haja uma revolução
Na arte cultura e fala
Para romper com a senzala
Que permeia a existência
Quando morre a experiência
Toda pobreza se instala.
  
 
* Baseado no Texto Experiência e Pobreza do livro Magia e Técnica, Arte e Política de Walter Benjamin – Editora Brasiliense – 3ª Ed. 1987.

 

 

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